Entrevista a Marta Paço - Atleta de Surf Adaptado
Uma vez que é invisual como é que faz surf? Faço surf com a ajuda do meu treinador e quando eu estou na água o meu treinador fala comigo. Está sempre a falar comigo, descrevendo o mar, dizendo “Olha as ondas estão pequenas ou as ondas estão grandes”. E também vai-me ajudando dando uns toquezinhos na prancha para eu conseguir fazer surf.
Como é que começou a sua paixão pelo surf? Eu comecei a fazer surf há dois anos. A minha mãe tinha um café perto da praia e alguns elementos do clube “Surf Clube de Viana”, que é onde eu treino, frequentavam o café e conheceram-me. Viam-me lá a brincar com os meus amigos, a andar de skate e propuseram-me andar no surf, que é basicamente andar de skate em cima da água.
O que sentiu a primeira vez que fez surf? Teve medo? Na primeira vez que fiz surf, eu senti-me muito bem. Claro, eu estava com o treinador sempre na água comigo, mas não tive medo pois desde muito pequena vou à praia, tenho contacto com a água e porque também a minha família, do lado da mãe, é toda de pescadores. Então eu, às vezes, ando nos barcos e o mar não era novo para mim.
Porque é que é importante fazer surf para si? É importante para mim porque é uma coisa que eu gosto de fazer, que me faz sentir muito bem e agora também porque eu gosto de competir. Fazer competição surgiu mais tarde, mas no início era mesmo por prazer porque eu gosto.
Quais as provas que para si foram mais importantes? As provas que eu achei que foram as mais importantes foi o Europeu, que foi há dois meses aqui em Viana do Castelo. Eu tinha o apoio dos meus amigos e da família que estiveram muitas vezes na praia a apoiar e isso é muito importante para mim. O Mundial também foi importante por ser o meu primeiro Mundial e consegui ficar em terceiro lugar, uma coisa que eu não estava à espera, o que foi muito importante.
No seu dia-a-dia, quais são as suas maiores dificuldades? No meu dia-a-dia, as minhas maiores dificuldades… Eu acho que já consegui superar grande parte, mas às vezes, as maiores dificuldades são que as pessoas não sabem comunicar comigo, como por exemplo, nos cafés, às vezes as pessoas ficam a olhar para mim à espera que eu repare que elas estão a olhar para mim. E, acontece muitas vezes, estarem a dar-me indicações apontando para sítios. Acho que o mais complicado é a comunicação com as pessoas.
O surf foi importante na melhoria do seu dia-a-dia? Sim, o surf foi muito importante porque me deu mais confiança e também mais alegria e, apesar de eu sempre ter feito desporto, eu acho que o surf é o que me deixa mais realizada.
Já lidou com pessoas com outras limitações que também façam surf? Já, no mundial e no europeu, eu tenho contacto com pessoas que não têm braços ou pernas, com pessoas paraplégicas e tetraplégicas. Como cada categoria tem um determinado tipo de pessoas com um tipo de limitação, nós acabamos por conviver uns com os outros. E, também convivo, às vezes, com os meninos da APPACDM que vão lá ao clube fazer umas aulas de surf.
Acha que pessoas com paralisia cerebral podem fazer surf? Eu acho que tudo é possível. Se conseguiram pôr pessoas que não se mexem completamente a fazer surf, acho que vocês não vão ser problema. Vocês devem agarrar as oportunidades que aparecem.
Qual é a diferença entre surf e bodyboard? No bodyboard a prancha é mais pequena e vai-se deitado, no surf a prancha é maior e vai-se a pé. Pessoas com paralisia cerebral podem fazer os dois desportos, mas eu acho que o bodyboard iria ser mais fácil. O surf adaptado não tem de ser a pé, há pessoas que fazem deitadas e há pessoas que fazem de joelhos. Na equipa portuguesa há duas pessoas de cadeira de rodas.
Conhece a Associação de Paralisia Cerebral de Viana do Castelo? Sim, eu conheço, já ouvi falar muitas vezes. Já ouvi falar em atividades e também acho que já estive com algumas pessoas daqui nos “Inclusive Games”, que são em Viana do Castelo todos os anos.
