Entrevista à Professora Maria José D’Alpuim - Fundadora da APCVC e Impulsionadora do Ensino Especial
1. Que tipo de dificuldades sentiu no início da sua carreira profissional que levaram à sua especialização?
Quando acabei de me formar, fui parar a Darque, a uma turma do sexo feminino. Eu tinha uma turma de 32 meninas da 1ª classe e muitas delas viviam num bairro com muitos problemas sociais. Comecei a trabalhar. Tinha alunas muito boas e outras que não adquiriam os conhecimentos suficientes. Não sabia o que fazer pois na minha formação de base não me tinham ensinado a trabalhar com meninos com dificuldades de aprendizagem. Pedi ajuda e informaram-me que em Lisboa havia o Instituto António Aurélio da Costa Ferreira, onde tirei a especialização.
2. O que a levou a ingressar no projeto da APPACDM de Viana do Castelo?
Regressada de Lisboa, fui então falar com a direção escolar para se iniciar a Educação Especial em Viana do Castelo. O diretor disse-me que não sabia da existência de crianças com deficiência, pelo que ficou então acordado que lhe apresentasse uma lista com os nomes das crianças. Ao mesmo tempo que veio a resposta da Educação Especial para o ensino oficial, fui convidada a ajudar a abrir a delegação da APPACDM em Viana do Castelo. Assim, fiquei a trabalhar nos dois locais, durante dois anos.
3. Ainda continua a exercer funções docentes? De que forma se mantém atualmente ligada à Educação Especial?
Mantenho-me assim, vindo aqui (risos). Um dia perguntaram-me se achava que se devia fazer uma associação de paralisia cerebral, porque já se tinha pensado, mas não tinha resultado devido a razões políticas e a outros interesses. Também me perguntaram se se devia juntar com outra associação e eu não concordei, pois a paralisia cerebral tem características e necessidades específicas. Dei então a opinião de se avançar com a colaboração do Centro de Paralisia Cerebral do Porto e sugeri a Dr.ª Filomena Araújo, por ser uma pessoa muito ativa. Contudo, também eu tive de me envolver e “dar a cara” para ajudar a associação a avançar.
4. Que sugestões daria para melhorar as respostas atualmente existentes para pessoas com necessidades especiais?
Primeiro, acho que as câmaras têm de cumprir aquilo que prometem: fazer rampas, pôr os balcões das lojas e das repartições ajustadas às pessoas com deficiência. Eu já pertenci a um grupo de trabalho da Câmara que fez um estudo das acessibilidades em Viana. Ficou tudo registado, mas as coisas não avançam, sendo que muitas barreiras arquitetónicas poderiam não existir se pensadas logo na construção dos edifícios e, mesmo as que existem, rapidamente se resolveriam. Mas… as pessoas não estão atentas. Todos nós temos direito a tudo, sejamos velhos ou novos, andantes ou não andantes, visuais ou invisuais. Noto também que será necessário pensar melhor na integração e no apoio no trabalho das pessoas com deficiência e, ainda, nos direitos dos pais que deixam de trabalhar para prestar cuidados aos seus filhos.
5. Como surgiu a ligação à APCVC e como se mantém?
Eu já tinha ajudado a fundar a APPACDM. Seis meses foram suficientes para abrir a associação. No caso da APCVC, foi diferente, demorou 6 anos. Entretanto as leis tinham mudado. Foi necessária a autorização para abertura e acordo com a segurança social. Já estávamos cansados, mas lá conseguimos com o empenho de muitas pessoas e com os contactos feitos com o Ministério. Neste momento, a ajuda não é tão grande: a crise é grande, os sócios já não podem dar tanto; o Estado não pode ajudar muito mais; e nós temos de cortar nas despesas. Assim, o meu empenho é na divulgação, angariação de fundos e sócios.
6. Atualmente, a que instituições e/ou projetos se mantém ligada e de que forma?
Estou ligada a muitos projetos. Agora mais diretamente à APCVC e à Caritas, à Unicef e… estou também a estudar Teologia.