Entrevista à Atleta Manuela Machado
1. Quando descobriu o gosto pelo atletismo e como começou a sua carreira?
Eu descobri o gosto pelo atletismo ainda muito pequena, mas não comecei muito jovem. Comecei aos 18 anos através do meu irmão, que me inscreveu no Clube de Viana do Castelo. Sou do tempo em que não era visto com bons olhos as mulheres correrem, mas sempre tive o apoio dos meus pais que me diziam “ Tu gostas, continua a correr!” Durante 2 anos, corri por um Clube de Viana do Castelo. No final fui correr para Braga, no Monte São Silvestre, onde fiquei 20 anos. Depois, ainda tive uma passagem pelo Sporting Clube de Portugal.
2. Na altura que era atleta de alta competição que treinos fazia e quantas vezes por semana?
Eu para ser atleta de alta competição, precisei de muitos anos de trabalho, sacrifício, muita força de vontade e gosto por aquilo que estava a fazer, porque comecei no atletismo aos 18 anos e só aos 27 é que entrei na alta competição. Nunca pensei ser atleta campeã do mundo! Passados quase 10 anos é que me tornei atleta de alta competição! Em 1992, foi a minha primeira internacionalização, fui aos Jogos Olímpicos de Barcelona, o que é o sonho de qualquer atleta, é o ponto alto do desporto. Eu trabalhava nessa altura 8 horas por dia e mesmo assim estive presente e fui a melhor atleta portuguesa de todas as modalidades. Fiquei em 7º lugar nos Jogos Olímpicos de Barcelona e depois decidi que com mais treino e descanso podia fazer uma coisa bonita pelo atletismo. Deixei de trabalhar e dediquei-me a 100% ao atletismo.
3. Que cuidados tinha e ainda tem com a sua alimentação e saúde?
No meu tempo, e mesmo agora, sou apontada como a atleta que não tem, nem nunca teve, muitas regras com a alimentação. Mesmo assim, consegui os meus resultados, tenho 3 medalhas de ouro e 2 de prata. Se calhar, por já ter começado o atletismo com 18 anos, estava habituada a comer de tudo e nunca tive muito cuidado.
4. Quais foram as competições que marcaram mais a sua carreira? E quantas medalhas e troféus ganhou ao longo da mesma?
Aponto a medalha de prata em que eu fui vice-campeã do mundo em Atenas, porque eu fiz toda a preparação e um mês antes tive um acidente de carro em que fraturei o esterno e tive várias lesões. Na altura, o médico disse-me que eu não estava preparada para correr, porque em Atenas ia estar muito calor e humidade. Mesmo assim, eu fui e corri a maratona, no dia dos meus anos, e fui a segunda. Quando telefonei à minha família, a minha mãe disse “Sabes filha, cortaste a meta à hora em que nasceste!” e eu disse “Oh mãe, também podias-me ter tido um minuto mais cedo que assim teria ganho!” Então, essa medalha marca-me muito. Troféus? Tenho muitos: dos jogos olímpicos, campeonatos do mundo e da europa.
5. O que mudou na sua vida depois de ter deixado a alta competição?
Em 2000, após ter ido aos jogos olímpicos de Sidney, decidi que iria por fim a minha carreira na alta competição, porque queria dedicar-me um pouco à família. Aquele primeiro ano foi difícil, mas em termos de atletismo não mudou muito. Continuo ligada à modalidade: tenho um grupo de jovens onde os ajudo e os ensino, porque gostaria de os ver um dia serem eles campeões. Não consigo deixar de correr porque é a minha vida. No primeiro ano em que não fui aos campeonatos do mundo, olhava para a televisão e dizia “eu podia estar ali!” Mas também tinha de optar pela família que sempre me deu o apoio e tinha que chegar a uma altura em que também tinha de estar com eles.