top of page

Entrevista ao Augusto Canário, Músico Popular


  1. Como começou a sua carreira de músico popular? Não sei se vocês sabiam mas eu andei num seminário. Tinha 11 anos, quando fui para o seminário do Carmo, Marco de Canaveses. Lá no seminário, aprendi a tocar viola para tocar na missa. Estive lá 4 anos e vim embora. Sempre gostei muito de música. Aos 15 anos, fui para os escuteiros, onde encontrei alguns amigos, que ainda hoje o são, há cerca de 40 anos. Alguns são aqui de Santa Marta, por exemplo, os “Jarojupe”, um grupo de música muito importante com 30 anos, e o meu amigo Júlio Viana e outros, com quem continuei a tocar viola. Em 1982, fui trabalhar para um sítio que é parecido com este, é um bocadinho maior, mas trata-se de gente bonita como vocês, que se chama APPACDM. Lá, além de tocar viola como já tocava, conheci uns amigos e aprendi a tocar outros instrumentos. Formamos um grupo, onde eu comecei a tocar cavaquinho, há 30 anos. Depois aprendi a tocar outros instrumentos, mas posso dizer, que em 1982 começou a sério a minha carreira de músico popular. Toquei também em grupos de folclore e, a partir daí até hoje, nunca deixei de tocar. Há 3 anos que sou profissional, dedicando-me apenas à música.

  2. Quantos elementos fazem parte do grupo “Canário e Amigos”? Neste momento, contando comigo, somos 12, num espectáculo normal. Já fomos menos e às vezes somos muitos mais. Somos mais, quando fazemos espetáculos especiais. Quando gravámos um DVD, por exemplo o último que gravámos em Guimarães, eramos 135 pessoas no palco. Era muita gente: bailarinos, outros músicos que nos vieram para apoiar, alguns estrangeiros e também uma banda de música, um grupo de bombos e mais um grupo de concertinas. Já temos feito outros espetáculos desse tipo, onde temos 25 concertinas. Normalmente, somos 12 e chega bem! É muita gente! Aturarmo-nos todos uns aos outros, não é nada fácil. Mas somos todos muito amigos.

  3. Tem muitos espectáculos agendados para este verão? Temos. Estamos em crise, mas eu não tenho notado isso, porque temos sempre muito trabalho, por 2 motivos. Primeiro, porque temos pessoas que gostam do que fazemos. Quando gostam do que fazemos, chamam-nos mais vezes. O segundo motivo é porque tentamos fazer o nosso trabalho bem feito. Quando se faz o trabalho bem feito, agradamos a várias pessoas. Este ano temos muitos espetáculos, tantos como no ano passado, e já há coisas marcadas até ao final do ano. No mês de agosto, por exemplo, tocamos todos os dias, não há pausas, é muito cansativo. Esta cara que eu tenho hoje de cansado, no mês de agosto ainda se nota mais. Deito-me mais tarde e portanto, não posso fazer abusos: não podemos fazer muitas noitadas, não podemos beber bebidas muito frias, nem comer gelados, para pouparmos a voz.

  4. Qual foi o maior espectáculo que fez até ao momento? Ao longo dos 30 anos em que ando a tocar e a cantar, há espetáculos que nos ficam na memória. Não nos lembramos só de um, mas normalmente, lembramo-nos dos últimos. Não há dúvida nenhuma, que para mim, o último grande espectáculo foi o das festas da senhora da Agonia, em 2011. Estavam cerca de 35 a 40 mil pessoas. Mas, no último DVD que gravamos, no Multiusos de Guimarães, o espetáculo só tinha 5 mil pessoas a assistir. Em termos de alegria e de entusiamo, é como se tivéssemos tido 50 mil, porque foi um espetáculo para o qual trabalhei muito e com muitos amigos. Já fizemos muitos espectáculos no estrangeiro, que também nos dão muito prazer. Este ano estivemos no Brasil, com amigos da região do Minho e também foi muito bom. Mas, o grande espectáculo, aquele que nunca se esquece e que teve mais assistência, foi o espectáculo das festas da Sra. da Agonia, em 2011.

  5. Gosta mais de tocar concertina ou cavaquinho? Qual é que utiliza mais nas festas da sua família? O primeiro instrumento que eu aprendi a tocar, foi a viola, mas sei tocar mal, só sei uns acordes. O instrumento que eu gosto mesmo muito é o cavaquinho, que já toco melhor um bocadinho. Mas o cavaquinho, no meio da “algazarra” ouve-se pouco. Em 1984, aprendi a tocar concertina. Sou mais conhecido por tocar concertina do que por tocar cavaquinho. Ensinei muita gente a tocar concertina, mais de mil pessoas. Em Monção, na Póvoa de Varzim, em Darque, na minha terra – Anha, em Perre, entre outros. A concertina é um instrumento mais forte, que acompanha melhor as cantigas que eu canto melhor, as cantigas ao desafio. Mas para meu prazer, o que eu gosto mais de tocar, por exemplo, nos meus discos, é o cavaquinho. Para trabalhar e para se ouvir melhor, é a concertina. Nas festas de família, lá em casa, toco pouco. Na APPACDM tocava, sentava com a rapaziada e às vezes vinham-me ideias à cabeça e faço as cantigas assim. Em casa , toco mais para treinar e para trabalhar. Também toco para os meus 4 netos, e também tenho ideias quando estou com eles. Mas como se costuma dizer, “em casa de ferreiro, espeto de pau”. Como toco tantas vezes fora de casa, quero é estar sossegado com a família, embora eles também têm direito a nos ouvir.

  6. Para além da sua carreira como músico popular, sabemos que trabalhou muitos anos na APPACDM. Foi gratificante o trabalho que desenvolveu com crianças e jovens com deficiência mental? Isso é um pergunta difícil. 30 anos… é uma vida, é muito tempo. É mais de metade da minha idade. Eu fui para a APPACDM como auxiliar e como motorista. Integrei-me num grupo de professores, terapeutas, psicólogos e auxiliares. Trabalhar como auxiliar não era mau, mas eu sabia eu tinha capacidades para mais. Com o meu amigo João Ferreira, formamos um grupo. Começamos a cantar as janeiras – fomos a primeira escola a cantar na rua - , fizemos um grupo de bombos, chegámos a ter um rancho, grupos e teatro e ainda hoje temos um grupo que no Natal representa o “presépio ao vivo”, um espectáculo muito bonito. Conheci lá cerca de 2000 utentes. O ter trabalhado lá faz parte da minha vida. Agora como trabalho mais como músico, não posso continuar a trabalhar lá diariamente. Mas continuo a ir lá sempre que me chamam ou que precisam de mim para fazer o meu trabalho. Mas sinto falta disso! Considero que na minha vida tive 4 famílias: a minha família biológica, a APPACDM, o grupo “Cantares do Minho” e agora a família do “Canário e amigos”. Tenho 52 anos e, se eu não tivesse ido trabalhar para a APPACDM, tenho a certeza eu hoje não era pessoa que sou.

  7. Para quando um espectáculo a favor da APCVC? Faço todos os anos espectáculos de beneficência e esse resultado é para terceiros. Já fizemos espectáculos para corporações de Bombeiros, para a construção da nova igreja da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, para crianças que precisam de cadeiras especiais ou para pessoa que tiveram um acidente e que precisam de se tratar no estrangeiro. Esses espectáculos acontecem mais no período do Inverno. Terei todo o gosto em fazer, quando se achar oportuno, um espectáculo a favor da vossa instituição.


Posts Recentes
bottom of page